quarta-feira, 29 de junho de 2022

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Sou ansiosa, a começar pelo nascimento. Nasci na última década do século XX, oito dias antes do previsto, de madrugada quase dentro de um táxi. O médico estava dormindo e só chegou a tempo de me ver já nos braços da enfermeira. Resultado: impedi minha mãe de fazer cesariana e tive que usar as roupas de um outro bebê da maternidade. De lá pra cá muita coisa mudou. Minha ansiedade continua intacta, mas é bom frisar que não é o que mais me caracteriza. Não sou tão simples que pareça comum, não sou tão complexa que não possa ser entendida. Para muitos que se gabam por nem eles mesmos se entenderem, sou totalmente oposta, mas nem por isso previsível. Se existe algo de que tenho certeza, é que conheço cada milímetro da minha natureza. Ao contrário da música eu gosto de coisas legais, morais e que não engordem, apesar de eu não sofrer com os quilinhos a mais ou seria melhor dizer que fui privilegiada pela genética? Gosto das palavras e de ser dona delas, não apenas por dominá-las com talento, mas também por não deixar que o retorno seja mútuo. Já com a minha intolerância, tenho um trabalho árduo pela frente. Minha vida é singela porque busco isso, sem deixar que a comodidade tome conta. Comunicação é uma carência da qual sofri por muito tempo e não estou falando de meios, como telefone ou internet, pois antes de usá-los é necessário que haja outra pessoa esperando sua resposta. Aprendi a fazer com que as coisas aconteçam para mim, sem quebrar o encanto causado pelas surpresas do acaso, e não pretendo esquecer essa lição. Fundamentei minha vida na seriedade e ela será sempre minha seguidora fiel. Fernanda Araújo